Aurora Boreal


Tenho quarenta janelas

nas paredes do meu quarto.

Sem vidros nem bambinelas

posso ver através delas

o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do Sol,

por outra a luz do luar,

por outra a luz das estrelas

que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea

como um vapor de algodão,

por aquela a luz dos homens,

pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,

pela menor a certeza,

pela da frente a beleza

que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança

de quatro lados iguais,

quatro arestas,

quatro vértices,

quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,

que as vigias são redondas,

e o sonho afaga e embala

à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,

por aquela entra a saudade,

e o desejo,

e a humildade,

e o silêncio,

e a surpresa,

e o amor dos homens,

e o tédio,

e o medo,

e a melancolia,

e essa fome sem remédio

a que se chama poesia,

e a inocência,

e a bondade,

e a dor própria,

e a dor alheia,

e a paixão que se incendeia,

e a viuvez,

e a piedade,

e o grande pássaro branco,

e o grande pássaro negro

que se olham obliquamente,

arrepiados de medo,

todos os risos e choros,

todas as fomes e sedes,

tudo alonga a sua sombra

nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,

quem vos pudesse rasgar!

Com tanta janela aberta

falta-me a luz e o ar.


António Gedeão

Bom fim de semana...


Semana Europeia de Prevenção do Cancro do Colo do Útero


20 a 26 de Janeiro de 2008
O cancro do colo do útero pode atingir qualquer mulher.

O colo do útero é a região final do útero, onde esta afunila para se ligar à vagina. Este cancro envolve o crescimento descontrolado das células que revestem o colo do útero. Embora possa pôr a vida da mulher em risco, a vigilância feita através do exame de Papanicolaou torna possível detectar este cancro na fase inicial, a tempo de ser tratado e curado. E agora que existe a vacinação, a maioria dos casos de cancro do colo do útero pode ser prevenido antes mesmo de se iniciar.
O cancro do colo do útero é causado pelo Papilomavírus Humano, ou HPV. Este vírus pode ser transmitido durante as relações sexuais, ou mesmo durante o contacto genital pele com pele, pelo que toda a mulher sexualmente activa está em risco de contágio.
Os preservativos podem reduzir o risco de infecção mas não a protegem totalmente contra o HPV. Isto porque a pele em torno da região genital, pode, também, conter o vírus.
. Até 80% das mulheres sexualmente activas serão infectadas por algum tipo de HPV, ao longo da sua vida;
. Felizmente, a maioria destas infecções desaparece de forma espontânea;
. No entanto, se a infecção não desaparecer pode evoluir para cancro.
Juntos, o rastreio e a vacinação oferecem a melhor protecção possível contra o cancro do colo do útero.
Lembra-te: pergunta ao teu médico o que é melhor para ti.
Nota: Papanicolaou ou citologia cervical é o exame preventivo do cancro do colo do útero.
Georgios Papanicolaou (1883-1962) médico grego-americano considerado o pai da citopatologia.
O exame consiste basicamente na colheita de material do colo uterino. É citológico, examina a morfologia das células da mucosa do colo do útero.

Pequeno Poema



Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,bastava toda a ternura que olhava nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama (1924 - 1952)


A minha mãe está doente, incapacitada e a precisar de apoio, daquele apoio que só as pessoas iluminadas, conseguem dar.
Felizmente conheço pessoas iluminadas. Felizmente tenho amigos.
Beijo grande de melhoras rápidas Mãe.....e muita força e coragem para aturar o que a vida no fundo nos presenteia.
O ano de 2008 começou menos bem. Havemos de minimizar o problema.


Puta que pariu a Vida


CANÇÃO DA RUA DESERTA


Na viela anoiteceu rapidamente
Aquele rancho de crianças
Que brincavam - eram oito!
Sumiu-se... já não as vejo.
E não as oiço cantar
O giro-flé-giró-flá
Giro-flé da beira-mar.

Tão lindas! Tão pobrezinhas!
-Ó Diolinda!, Miguel!~
Ó Clementina!, Luzia!
Então o jantar?
Não ouvem?Tu não ouves, Lionel?,
Gritam as mães.
E a petizada
Numa corrida ligeira
Põe um fim na brincadeira...

Um silêncio perturbado
Pelo clarão momentâneo
De uma luz numa janela
Alastra e brilha amarelado,
Trémulo, fraco, indeciso...
Uma guitarra diz coisas
Na voz eterna do fado

-É o Chico do "Benfica"Que mora no 27
Da Rua do Paraíso.
Quando sai da oficina
E enquanto a mãe - a velhota,
Lhe prepara a paparoca,
Pega na banza e vai disto:

Afirmam que a vida é breve
Engano, a vida é comprida:
Cabe nela amor eterno
E ainda sobeja vida.

- O jantar está na mesa;
Deixa a sanfona, meu filho,
Olha que a sopa arrefece.
Diz-lhe a mãe, enternecida.
E o Chico senta-se à mesa
Indo arrumar com jeitinho
O "pianinho" da tristeza.

- Não falas?
Temos tragédia?
Mas o Chico não responde;
E mal acaba o jantar,
Vai-se deitar, sorrateiro...
E a mãe deita-se também
Depois de lavar os pratos
E de "abaixar " a torcida
No seu velho candeeiro...

Na viela a noite cai
Soturnamente cansada...
Ninguém passa, ninguém vem,
Ninguém se vê, ninguém sai...
Sombra, silêncio - mais nada!

Na baiuca da Celeste
O marido, - um entrevado,
Olha a mulher e os dois filhos
Numa expressão de abandono.
O mais pequeno adormece
Ao pé da mãe, e o mais velho
Que tem dez anos, também
Está cheinho de sono.

Comeram sardinhas fritas
E beberam água-pé;
Mas a mãe - pra rebater
Bebe um pouco de café.

Um som baço de cantiga
Paira e sobe diluído
No silêncio da viela...
No céu não brilha uma estrela

O guarda nocturno passa
E passa a mão com violência
P'la porta do carvoeiro.
Tilintam as chaves.
Palmas...

- Lá vai!
É o Zé Fragateiro
Pelo bater da mãozada.
E a noite cai -
e o silêncio...
Só o silêncio, mais nada...

A roupa do marinheiro
Não é lavada no rio;
É lavada n o mar alto
À sombra do seu navio.

- Ena!, saíu-se a Rosário!
Coitada, embala o miúdo

Um petiz de quinze meses,
E canta a pensar no pai
O seu amado Guilherme
Que é fogueiro no "Gil Eanes".

E a noite cai mais sombria;
Não há rumor de ninguém...
E tarda a romper o dia!

ANTÓNIO BOTTO
Tenho guardado, religiosamente um disco em vinil com este poema dito pelo João Villaret. É uma pérola rara. Linda Linda. Pena não conseguir meter aqui som.

Hoje estou que não me entendo....

Longe do Mundo

Se ao menos...


Lembras-te do tempo em que partilhavamos uma uva? Pode-se partilhar coisa tão pequena?

Continua....


Continua...


A Minha Vontade


As Minhas Flores Favoritas


A Minha Lareira


O Meu Quintal



O Jantar de Hoje

Hoje é Domingo. O Jantar vai ser empadão, regado com muito vinho como sempre.
Aqui cometemos vários pecados, sendo que o da Gula é certamente um deles.
Jantar para dois, á luz da vela. O S.Pedro vai encarregar-se de tratar do assunto. O romantismo mora ao lado. O pecado mora aqui. Se ao menos houvesse Lisboa ao fundo...

Só droga, tabaco não por Hernâni Carvalho

'Vai haver salas de fumo nas prisões. Fumar é muito perigoso para a saúde. Chutar na veia é que pode ser em qualquer cela. É um fartar vilanagem. O desnorte é tal que a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP) anunciou que vai permitir a criação de zonas para fumadores nas prisões. Isto é, a DGSP vai fazer a subida fineza de permitir aos presos fumarem. Na sua magnanimidade, a DGSP diz que vai autorizar que se fume, mas com regras. Claro! Fumar é tão perigoso que não é em qualquer lugar da prisão que alguém se pode atrever a fazê-lo. Claro. Não vai ser pegar na beata e acendê-la, assim, “à brava”, sem mais nem menos. Isso é perigoso! Já a droga não. A droga que pode ser consumida em qualquer cela. E a DGSP até serve kits para que a droga seja consumida em condições. E até diz que vai dar formação aos guardas para entregarem os Kits. Pois. Os anjinhos não sabem. Mas com o consumo do tabaco não. Aí todo o cuidado é pouco. O consumo de tabaco é tão perigoso que a criação das áreas de fumo nas prisões, está dependente da iniciativa dos directores. Ou seja, se o senhor director deixar, os presos podem fumar. Se o senhor director não deixar, os presos só se podem drogar. Estou a ver. Claro que a excepção será aberta se um dia o presidente da ASAE for detido. Aí aplica-se a lei do jogo que se sobreporá à lei da droga. Perdão, do tabaco. É o desnorte e o cinismo total. Os presos que fumam também deveriam exigir um kit para fumar. Talvez com um isqueiro, um cinzeiro e um pedido de desculpas do governo por pretender a estupidez de controlar o uso do tabaco nas prisões quando nunca conseguiu controlar o uso e consumo desmedido de drogas em qualquer prisão do país. É o cinismo no seu melhor. O ministro das Finanças não soube explicar (será que sabe explicar alguma coisa?) a José Sócrates que os fumadores são os melhores pagadores de impostos do país. Pagam uma fortuna de impostos, e não dão despesa. O dinheiro dos impostos sobre o tabaco chega aos cofres do Estado sem que este gaste um tostão. O combate à droga é uma despesa permanente de resultados medíocres. Nem o combate ao consumo tem tido sucesso, nem a sua fiscalização é barata ou eficaz. Quanto gasta o Estado nisto? Sócrates não soube ver. Asae. Perdão, Azar.'
Hernâni Carvalho, Terça 8, às 9:03

Fiadeira, Desenho de Vasco Calado





Óleo sobre Tela, Dordio Gomes

Tapeteira, Desenho de Vasco Calado


Tapete de Arraiolos

Ausência


Lisboa ao fundo...










Cíúme


Finje que foste comprar tabaco e que voltaste agora.

Como assim?

Já te disse, finje que foste comprar tabaco e que voltaste agora.

Já comeste?

Comi.

Comeste o quê?

Duas sandes de atum.

Afinal estás a beber. Prometeste que não bebias mais a partir do dia 1.

Pois, pois.

Até tinha medo de voltar para casa eu. Já esperava esta merda. Eu sabia.

É apenas mais alguma coisa que se quebra.

Mandei-te 1 mensagem a avisar.

Mensagens mandam-se aos cães.

Pois...a ti eu telefono.

Não percebi que não vinhas dormir a casa e na manhã seguinte fui ler de novo a mensagem. Aí percebi que não vinhas dormir a casa. Mas ninguém sai de casa num dia, para ir 'variar,' e, volta no dia seguinte ás 8 da noite.

Pois, devia ter voltado depois do meio dia que é quando temos que sair do Hotel não é?

Não sei. Não quero saber. Não me contes. Não tenho nada que ver com a tua vida nem quero ter. Aliás, nunca mais saio contigo a lado nenhum. Ninguém 'caga´em mim como tu 'cagas'.

Afinal queres saber.

Não quero saber. Não me contes.

Estás magoado tu. Estás ferido de morte.

Ahhhhhh agora que percebeste que as coisas estão a dar para o torto vens com 'mamas de cão'. Não adianta vires com 'mamas de cão', porque já não adianta nada.

Afinal já não somos companheiros? Já não vamos morrer no mesmo dia?

Claro que não. Isso já foi...













(para a Guida)


“Tenho a mania dos dramas”, disse-me ela, depois de me ter dito outras coisas, dessas que a gente ouve como se estivesse à conversa com os nossos próprios pensamentos.Eu não lhe disse que também tenho, não era preciso. Nem lhe disse que de poeta também só tenho a alma. Nem lhe disse que também me fui tornando exigentemente selectiva quando chega o momento de entregar uma chave de mim. Às vezes não é preciso dizermos nada. Às vezes outra mulher pode ser o espelho de nós mesmas, ou melhor, a imagem aperfeiçoada de nós mesmas. Às vezes com outra mulher podemos baixar as defesas e mostrar o medo e a celulite, a cobardia e os cabelos brancos, a insegurança e as mamas descaídas.Espreitei-lhe os gestos e o perfil enquanto fumávamos na varanda, enroladas na velha manta de lã. Adivinhei-lhe os contornos escondidos, escutei-lhe o silêncio. Estendi-lhe a minha mão fria e vazia e ela guardou-a no seu corpo quente.Depois, sem beijos nem carícias, as duas percebemos que de tão pouco se fazem os momentos de serenidade.
Mais um mimo que me ofereço de novo. Texto da amiga Rosa , colega Bloguista de a Funda São, que escreve com aquela massa de que é feito o poeta.
Daqui lhe desejo um novo ano de 2008, cheio de esperança.
Com a devida vénia.

Promessa


Não desanimes por me veres ao lado

Triste como um ribeiro que secou.

Isto passa.

Podes ter a certeza.

Basta o degelo começar...

O poeta é uma graça

Da natureza,

Há-de sempre cantar.

Arranja pois as jarras da alegria,

E vai sonhando já dos meus desleixos...

Eu volto a rolar seixos

Qualquer dia.



(Miguel Torga)


Óleo sobre Tela, Dordio Gomes

Dobadeira, Desenho de Vasco Calado
















Com licença poética

Quando nasci
um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta,
anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim,
ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
Inauguro linhagens,
fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida
é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.


Eu sou.


Adélia Prado

Dona Doida

Uma vez, quando eu era menina,

choveu grosso
com trovoadas e clarões,

exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe,

como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho,

angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus

e estou voltando agora,
trinta anos depois.

Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta,

riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil

e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.


Adélia Prado



«Um dia, talvez quando chegar o inverno, vou contar-te as minhas histórias. Com a tua ajuda. Escolhes uma das minhas rugas e começamos por aí. Primeiro as dos olhos. Depois aquelas duas que tenho no canto dos lábios e que me esmorecem a expressão quando não estou a sorrir. Depois, se quiseres, passamos para a flacidez da pele, e logo a seguir para os resultados da gravidade, de todo o peso que já carreguei nos ombros e no peito.
Despir-me-ei para ti. Toda.
Se quiseres, paramos um pouco e fazemos amor. Vai estar frio porque escolhi o inverno e vai apetecer-nos ficar na cama todo o dia, de janela fechada, arfantes por respirar o ar cansado e suado.
E se entretanto te apaixonares por mim, vou fingir que não reparo para não te constranger, e dou-te um beijo, desses inteiros que são teus, antes de adormecermos por instantes».
http://rosapurarosa.blogspot.com/ , com a devida vénia.