Hoje sinto-me assim. Passou uma semana desde a cirurgia. Sete dias de dieta líquida e um de jejum total. Já faço parte dum site chamado power change cujo link deixarei mais tarde porque me esqueci de adicionar nos favoritos.
Acho que passei a fumar mais.
Estou com baixa e a ansiedade associada á inactividade deixam-me sem alternativa. Porque uma pessoa já não come e não fo*e só lhe resta entregar-se á inércia que traz vícios e, como sou propensa a eles, também tinha que ser fumadora.
Aqui em casa tenho o apoio da minha mãe e de uma amiga que tem sido imprescindível em todo este processo. Só não me carrega no colo, prática aliás impossível porque pareço mais ou menos um golfinho arraçado de cachalote.
Bem, olhei para o canto da parede da sala e pareceu-me ver um cogumelo a nascer. Um ou dois. Na volta são visões, depois vejo melhor.
Queria dizer-te obrigada e nem sei bem como. A vida tratou de nos afastar os afectos. Haverá um dia em que saberás só pelo meu olhar.
Será que vou viver até aos 50 anos só para fazer um cadáver razoável? Hum?
E com esta questão altamente filosófica me vou.

primeiro dia

De maneiras que quando terminei a operação, acordei atrapalhada com problemas respiratórios e hipertensão arterial meio grave, mas ainda tive tempo de perguntar que horas eram e finalmente a minha preocupação maior: onde é que estão as minhas cuecas? Até hoje nunca mais soube delas. É que sabem, depois de uma anestesia geral uma pessoa pode acordar grávida sem sequer se lembrar. Não lembrar foi a parte boa. Ficar sem as cuecas foi a parte necessária e cómica. Passar mal, foi porque fumo em demasia e fui avisada, e, ter hipertensão pela mesma razão.
Passei 3 horas nos cuidados intensivos. Depois, quando me consideraram estável levaram-me para o quarto as 2 e tal da manhã o que foi 1 bela hora porque ainda a noite era 1 criança claro, menos para mim. Dores abdominais, medo até de respirar, medo de tudo, aquilo parece como nos filmes, levam-nos na cama e vemos luzes por cima de nós. É uma confusão mental muito grande. Foi a minha primeira experiência neste tipo de acto clínico.
De manhã muito cedo, mal dormi com medo de me mexer, toca a levantar para tomar banho. Era tudo o que eu não queria, mas lá fui e sozinha. Não consegui descalçar umas meias especiais que me colocaram mal entrei e, que conservei até no bloco operatório. Pedi ajuda para descalçar as meias e tomei um duche rápido. Meti-me na cama porque era confortável e porque só sentia era sono. Uma coisa terrível o sono. Ás 11:30 deram-me alta e pareceu-me mal. Estava a gostar de estar ali onde me sentia segura. Mas antes, na hora do pequeno almoço: o que é que bebe? Eu disse um chá. A meio da manha trouxeram um iogurte e ao almoço, sopa rala e sumo, bebi o sumo. Vesti-me, fui visitar a Liliana e saí. A minha amiga veio buscar-me e levou-me a casa. Serviu-me um chá, fez-me a cama toda supimpa e fez-me sopa rala. De modos que na sexta feira estive apenas a soro, que alimenta mas não tira a sede,essa parte foi um horror que se manteve até ao dia seguinte á cirurgia.
Estou de baixa e agora tomam conta de mim, coisa a que não estou habituada muitos anos e é bom. Serviu também para me lembrar da amizade que é essencial agora e sempre e os afectos tem andado um pouco esquecidos ou postos de lado, mas a vida é madrasta tantas vezes.
Vou passar dois meses a dieta líquida.
Hei-de conseguir!
Depois venho aqui contar.
Hasta.
Ps - Há 3 dias que só ingiro líquidos, acham normal?

dia da cirurgia e motivação


No passado dia 19 de Fevereiro, fui internar-me no Hospital para uma cirurgia de ambulatório, eufemismo para cirurgia de atar e meter ao luar. Atei a 19 e meteram-me ao fresco a 20. Et voilá.

De maneiras que fui colocar uma Banda Gástrica, através da técnica de laparoscopia, nome requintado não vos parece? Esta técnica consiste na introdução da 'banda' através de 4 'furinhos distribuidos mais ou menos em cruz pela região abdominal. Implica anestesia geral. E perguntam-me vocês caros leitores Porque??? Ora aí está. Se estava 1 dia frio e ventoso e eu até gosto de comer é porque acho que estou gorda.

Então lá fui cheia de medo de tudo e já passou. O pior ainda está para vir. Mas o que vim aqui contar foi que, no meu quarto de ambulatório (onde se preparam os doentes para as cirurgias), estava uma menina de 23 anos que ia colocar um bypass, através da mesma técnica mas uma cirurgia mais agressiva digamos e com internamento e eventuais complicações. Mas no seu caso tinha que ser aquela. No meu caso o médico deu-me a escolher depois de me explicar as complicações de cada uma e eu escolhi a Banda.

A parte interessante e que me motivou muito foi a menina de 23 anos, aparentando uma idade muito superior á minha por via do excesso de peso. Tinha o seu caminho delineado...então ela lá me explicou tudo, o que lhe iria acontecer ao corpo, todas as dificuldades previstas e finalmente a sua meta. Dizia ela: - Olha eu sou uma crisálida, uma lagarta feia e vou sofrer muito e tudo dependerá de mim porque isto é apenas uma ajuda para no final me transformar em borboleta. Vou tatuar 1 borboleta na perna ou nas costas e terei chegado ao fim da meta e vou conseguir.

Aquelas palavras comoveram-me, porque eu mesma precisava de pensar da mesma forma mas não. Agora já penso. Obrigada Liliana pelo teu ensinamento de palavras de esperança. Espero que daqui por 6 meses já tenhamos chegado a meio do percurso e que em mais seis meses consigamos cortar a meta e então aí também vou querer ser uma borboleta, mas a minha tem que ser azul, eu lá saberei porque.

Olhares


Esta é a banda que me foi colocada. Objecto simpático não acham?

Esta sou na véspera da cirurgia já meio perturbada

Esta continuo a ser eu um pouco mais perturbada ainda.


Esta é a imagem de como o objecto ficou dentro de mim.





Este é o meu olhar ainda indeciso.