Um dia, quase em fim de tarde, tinha esquecido a caixa em cima da mesa. A casa enchera-se de pó. Pelas janelas de vidros enormes, já não entrava o sol. A vista para o castelo era agora um prédio de sete andares com tela preta no telhado. O rio, que se avista ao longe pela janela da porta da casa, já não tinha brilho. A água parecia não correr.
As varinas venderam todas as sardinhas e as canastras tornaram-se bibelôts em tamanho minúsculo. Já não há pregões: 'quem é que quer ver a minha lula? a minha sardinha é linda!!!!'
As gaivotas deixaram de nicar naquelas janelas. Até os pombos doentes e estúpidos deixaram de comer os restos de milho que os vizinhos teimosamente lhes atiravam.
No largo, o cauteleiro que era verde, pintou-se agora de negro. A aguarela que pintava o bairro era agora um tapete de uma qualquer loja dos trezentos.
A cidade, linda e amiga era agora uma colcha de renda amarelada e queimada pelo tempo.
Éramos agora um só.
No tempo em que festejávamos qualquer data, ou mesmo sem data, éramos dois.
Depois o meu namorado apaixonou-se e foi-se embora. A seguir veio o mau tempo. O inverno cobriu toda a cidade e levou-me com ele, para nunca mais voltar, ou então não...mas isso, só viria a saber muito tempo depois.
E a mensagem que nunca mais chega. Estava habituada a uma mensagem logo a passar as nove. Depois, seguiam-se as horas infinitas ao telefone, quase sempre com hora marcada, sempre com controle, muitas vezes com medo.
A vida não é justa para os amantes.
(continua...)
2 comentários:
Nem para os amantes nem para quem bloga :O(
podes crer Sãozita, já notei que o problema ainda não está resolvido :-(
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